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sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

6 de Janeiro / Dia de Reis


Das figuras bíblicas mais intimamente ligadas à tradição religiosa do povo destacam-se os Reis Magos, ou melhor, os Santos Reis uma vez que a hagiologia romana considera-os bem aventurados.
O simbolismo dos Reis Magos é amplo e emprestam-lhes os exegetas as mais diversas interpretações. Estão ligados intimamente às festas do Natal e deles nasceu, praticamente, a tradição do Papai Noel, pois os presentes dados nessa ocasião reproduzem que os magos do Oriente, depois de cumprida a rota que lhes indicava a estrela de Belém, prestaram a Jesus na gruta onde ele nascera.
Reis Magos
As referências bíblicas são vagas e o episódio quase passa despercebido dos evangelistas, mas as contribuições da tradição patriática são muitas e, como elas têm força de fé e verdade, nelas devemos buscar grande parte das coisas que se contam dos santos Belchior, Gaspar e Baltazar já referidos pelos profetas do Velho Testamento, que vaticinavam a homenagem dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em Belém.
De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe. Vinham do Oriente e Baltazar, o mago negro talvez viesse de Sabá (terra misteriosa que seria o sul da Península Arábica ou, como querem os etíopes, a Abissínia). Simbolizam também as três unicas raças bíblicas, isso é, os semitas, jafetitas e camitas. Uma homenagem, pois, de todos os homens da Terra ao Rei dos Reis.
Eram magos, isto é, astrólogos e não feiticeiros. Naquele tempo a palavra mago tinha esse sentido, confundindo-se também com os termos sábio e filósofo.
Eles prescrutavam o firmamento e sentiram-se chocados com a presença de um novo astro e, cada um deles, deixando suas terras depois de consultar seus pergaminhos e papiros cheios de palavras mágicas e fórmulas secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei de Judá e, que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu preito ao menino que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino não fosse deste mundo.
O simbolismo dos presentes
Conta ainda a tradição que, ao chegar a Canaã, indagaram os Magos onde havia nascido o novo Rei de Judá. Essa pergunta preocupou Herodes, que hoje seria considerado um quisting a serviço dos romanos, e que reinava na Judéia.
Os representantes do Império preocupavam-se com o aparecimento de um novo lider do povo de Israel. A revolta dos macabeus ainda não fora esquecida e o povo oprimido esperava, ansioso, pela vinda do Messias que iria libertar o Povo de Deus e cumprir a palavra do salmista: "Disse o Senhor ao meu Senhor senta-te à minha direita até que ponho os teus amigos como escarbelo aos teus pés".
Os magos procuram conforme conselho de Herodes o novo Rei para render-lhe homenagem e para informar o representante romano do lugar onde nascera o Messias a fim de, com falso preito, sequestrá-lo.
No presépio encontramos apenas os animais e os pastores e, inspirados pelo Espírito Santo, curvaram-se diante do filho do carpinteiro de Nazaré e depositaram, ao pé da mangedoura que lhe servia de berço, os presentes: ouro, incenso e mirra, isto é prendas que simbolizavam a realeza, a divindade e a imortalidade do novo Rei, e grão de areia que cresceria e derrubaria o ídolo de pés de barro (simbolo das grandes potências que se sucederam no domínio do mundo), do sonho de Nabucodonosor decifrado pelo profeta Daniel.
Símbolos da humildade
Na tradição cristã os três Reis Magos simbolizavam os poderosos que deveriam curvar-se diante dos humildes na repetição real do canto da Virgem Maria à sua prima Isabel, e "Magnificat", pois sua alma rejubilava-se no Senhor, que exaltaria os pequenos de Israel e humilharia os poderosos.
A igreja cultua os Reis Magos dentro desse simbolismo. Representam os tronos, os potentados, os senhores da Terra que se curvara diante de Cristo, reconhecendo-lhe a divina realeza. É a busca dos poderosos que vêem em Belchior, Gaspar e Baltazar o exemplo de submissão aos designios de Deus e que devem, como os magos, despojar-se de seus bens e depositá-los aos pés dos demais seres humanos, partilhando sua fortuna como dignos despenseiros de Deus.
Os presentes de Natal também têm esse sentido. São as ofertas dos adultos à criança que com a sua pureza representa Jesus. Alguns, dão a essas festas um sentido mitológico pagão, buscando nas cerimônias dos druidas, dos germânicos ou saturnais romanas a pompa das festas natalinas que culminam com a Epifania.
A Bifana
A palavra epifania, usada também como nome de mulher, deu origem a uma corruptela dialetal do sul da Itália, levada depois a Portugal e Espanha, a Bifana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que, no Dia de Reis , saía pelas ruas da cidades a entregar presentes aos meninos que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente ligada às tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima do significado litúrgico das festas natalícias.
Os presentes eram somente dados no dia 6 de janeiro e nunca antes. Tanto assim é, que nós mesmos, no Brasil, na nossa infância, recebíamos os presentes nesse dia. Depois, com a influência francesa e inglesa em nossas tradições a Epifania ou Bifana foi substituída pelo Papai Noel, a quem muitos estudiosos atribuem uma origem pagã e outros, para disfarçar o sentido comercial da sua presença no dia de Natal, confundem com São Nicolau.
Hoje, o Santos Reis já não são lembrados. O presépio praticamente não existe e só neles é que podemos ver os Magos de Oriente apresentados. A árvore de Natal, pinheiro que os druidas e os feutos enfeitavam para agradar o terrível deus do inverno Hell, substituíria a representação do nascimento de Jesus, introduzida no costume dos povos por São Francisco de Assis.
A festa da Epifania, dia de guarda no calendário litúrgico, já não mais é respeitada e com ela desaparecerem outras tradições da nossa gente, trazidas da Peninsula Ibérica pelos nossos antepassados, como a folia de Reis, Reizados e tantos outros autos folclóricos, cultuados em poucas regiões do país.
Gimenez, Armando
"Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do Natal". Diário de São Paulo, São Paulo, 5 de janeiro 1958
Fonte: www.portaldafamilia.org



Tradicional festejo de origem portuguesa, a Folia de Reis está diretamente ligada ao culto católico do Natal. A prática da celebração foi trazida para o Brasil no século 18 e ainda segue fortemente ligada às manifestações folclóricas de diferentes regiões do país, sobretudo no interior. Sua peregrinação reproduz a viagem dos Reis Magos a Belém em busca do Deus-Menino. Os grupos compõem-se de "companhias" de doze ou mais foliões, em geral músicos e cantores, aos quais se juntam os palhaços, que representam os soldados de Herodes. Cada grupo adota uma espécie de uniforme militar e seu instrumental é composto de violão, cavaquinho, sanfona, pandeiro, bumbo e caixa. A música, que se chama toada, é de estilo responsorial. Os palhaços, que têm obrigações e proibições específicas, recitam versos tradicionais ou improvisados, as "chulas", que divertem o público.
No Estado do Rio de Janeiro, o ciclo de apresentação da Folia de Reis, chamado "giro" ou jornada, se estende até 20 de janeiro e é dividido em duas etapas. A primeira, de 24 a 6 de janeiro, quando cantam em louvor aos Reis Magos. A segunda, de 7 a 20 de janeiro, é dedicada a São Sebastião, reverenciado nas cantigas que entoam. Ao encerrar seu ciclo de apresentação, as folias costumam dar uma festa para agradecer as contribuições recebidas. É a "Festa de Remate", para a qual convidam parentes, amigos e outras folias, que comparecem uniformizadas. A Folia de Reis está presente na maioria dos municípios fluminenses.
Atualmente, Macuco e Duas Barras são cidades que aparecem com destaque quando se fala na tradição da Folia de Reis. Em Macuco, lar da Folia Estrela Guia do Oriente, que tem nada menos que 56 anos, um grande encontro de Folias já é realizado desde 1972. “A tradição aqui é muito forte porque 85% da população é afrodescente, e foram passando a festa de pai para filho”, explica Antônio Carlos Gonçalves, o Carlinhos, presidente da Associação de Folia de Reis da cidade. Em 2013, o encontro acontece dias 26 e 27 de janeiro, na Praça Professor João Brasil, e espera-se reunir por volta de 60 a 70 grupos, da cidade e regiões próximas. Na visão de Carlinhos, manter viva a tradição da Folia é imperativo para prestar uma homenagem às raízes brasileiras. “Quem criou esse país com força? Foram os escravos, também com sua dança, com sua festa, que a gente tem que preservar”.
Outra cidade conhecida pelo grande encontro de folias é Duas Barras, lar da Folia de Reis Estrela do Dia, de Mestre Silvino e sua mulher, Marli. Com mais de 40 anos de fundação, a Folia foi uma herança de família. “Meu pai era reizeiro. Depois que ele faleceu, em 1954, fiquei com a cruz de meu pai”, resume Silvino. Em todos esses anos, essa “cruz” não foi nada pesada. Pelo contrário. Mestre Silvino pode passar horas e horas falando de todos os ganhos que teve graças à Folia, e da extrema dedicação que reserva à prática do reizado – o presépio armado em sua casa, por exemplo, que impressiona pelo cuidado e detalhes, fica armado o ano todo, e é uma das atrações da cidade. Ao mesmo tempo, como há uma tradição de as Folias do Estado se reúnirem em encontros, Silvino teve a oportunidade de andar por quase todo o Rio de Janeiro. “Aonde chamam a gente para ir, a gente vai. Graças a isso, tenho feito boas amizades, e o povo sempre nos recebe com muito carinho”, orgulha-se. Em 2013, o Encontro de Folias de Reis de Duas Barras acontece nos dias 5 e 6 de janeiro, com a reunião de grupos da cidade, de Arraial do Cabo, Campos dos Goytacazes, São Fidélis, da capital e de outros munícipios, totalizando cerca de 60 folias. A festa, que costuma reunir de 5 a 6 mil pessoas por edição, acontece na Praça Getúlio Vargas.
Outra folia que segue forte de geração para geração é a Estrela do Oriente de Rio das Flores. Mestre Joãozinho, que já está há frente do grupo há 21 anos, não consegue precisar a data de fundação. “Isso veio do meus avós, é bem antigo. Quando eu assumi, já era centenário, e eu vou seguindo a tradição”. Desde 2001, a cidade tem uma Associação de Folia de Reis, nascida com o objetivo de ajudar a reativar folias que iam fechando por falta de recursos. “Hoje a gente já tem cerca de nove folias registradas. Então, a gente está sempre melhorando a cultura do reizado, e os mais novos vão se envolvendo. As crianças adoram”, anima-se Joãozinho. Na cidade, o encontro de Folias acontece no dia 6, na Praça Santo Reis, a partir das 8:30h da manhã. Com média de público de 800 pessoas por edição, a festa deve reunir de 12 a 15 folias, da cidade e regiões próximas.
Já Nova Friburgo, onde a tradição das folias tem muita força graças à proximidade com áreas rurais, onde a fé católica surge com destaque, também é realizado um grande encontro entre os dias 19 e 20 de janeiro. Organizado no distrito de Conselheiro Paulino, o encontro já chega a sua 30ª edição, e contará, em 2013, com cerca de 40 folias, sendo 15 de Nova Friburgo e as restantes de cidades como Bom Jardim, Duas Barras, Cordeiro e Miracema. A festa recebe por ano mais de 5 mil pessoas. “A tradição aqui é muito forte, então o pessoal comparece mesmo”, diz o historiador e músico Léo Abelha.

Festa também presente na capital

Com grande força no interior e em cidades de colonização afrodescente, a festa de folia de Reis também tem espaço na capital, com as favelas aparecendo como grandes guardiãs da tradição. Na Zona Norte, aSagrada Família da Mangueira, do mestre Hevalcy Silva, anima o Natal da comunidade descendo o morro batendo de porta em porta. “Nossa fé e devoção são os responsáveis por manter isso, que é uma cultura nossa que vem de séculos passados”, diz Hevalcy. A alegria e religiosidade da Sagrada Família não fica restrita à Mangueira: a Folia também faz cortejos em morros e localidades próximas. Neste domingo, dia 6, a festa começa de manhã na Cidade de Deus, e termina com a apresentação dos foliões na Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Glória, às 18h. No dia 20, a Folia encerra seus festejos com a celebração ao Dia de São Sebastião, começando com cortejo no Chapéu Mangueira, no Leme. Depois, a folia volta para a Mangueira, com um “encontro de cumprimento da missão” em sua sede.
Na Zona Sul, a Folia Penitentes do Santa Marta é responsável por celebrar a fé junto aos devotos do morro Dona Marta há mais de 50 anos. Como é comum nesse tipo de grupo, o atual Mestre-Palhaço, Ronaldo Silva, também herdou o posto de seus familiares. “Desde os 9 anos eu participo da folia com o meu irmão, então, é a nossa história, nascemos praticamente dentro de uma folia de reis”. A Penitentes se apresenta na própria comunidade no dia 6, a partir das 9h da manhã, com a descida desde o pico até o pé das escadarias da entrada do morro, seguida de apresentação na sede do grupo ECO. Nos dias 13 e 17, é a Rocinha que recebe a alegria do grupo de mais de meio século de vida, que encerra suas festa no dia 20, mais uma vez em casa. A procissão de São Sebastião também percorre toda a comunidade, de manhã até a tarde. “O pessoal já faz questão de abrir a porta para nós, os devotos gostam muito”, conta Ronaldo.

Outras folias do Estado

Belford Roxo e Volta Redonda também têm tradição em promover encontros de folia. Em Belford Roxo, acontece no dia 13 de janeiro, na Praça do Cruzeirinho, com 10 folias locais inscritas, das 9h às 18h. Já a festa de Volta Redonda, que chega em 2013 a sua 15ª edição, está programada para o dia 12, na Ilha São joão, com 15 folias de Reis da própria cidade e de cidades vizinhas, como Barra Mansa e Barra do Piraí.