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terça-feira, 16 de maio de 2023

Tenório Cavalcante, um palmeirense ícone da política brasileira

 


Natalício Tenório Cavalcanti Albuquerque é sem sombra de dúvidas um dos mais famosos migrantes que vieram do Nordeste para a Baixada Fluminense. De infância humilde no povoado Bonifácio, zona rural de Palmeira dos Índios/AL, ao chegar no estado do Rio de Janeiro, a cidade de Duque de Caxias/RJ era apenas um conjunto de ruas de terra batida cercadas de loteamentos pantanosos e infetados de mosquitos. 

Sua ida ao Rio de Janeiro ocorre em 1926, em busca de emprego, e em um ano, após exercer diversas atividades profissionais, torna-se administrador de uma fazenda em Santa Cruz da Serra, bairro do município de Duque de Caxias/RJ, e pouco tempo depois, fiscal da prefeitura de Nova Iguaçu.  

Adquire fama e popularidade, ganhando o apelido de “O Homem da Capa Preta”, envolvendo-se com a política suja da região. Ao mesmo tempo, Tenório segue seus estudos e se forma em Direito pela Universidade do Brasil. Após concluir o curso superior inicia carreira política no ano de 1936, elegendo-se para a Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu/RJ, cumprindo mandato até a decretação do Estado Novo. Como resultado, enriquece e torna-se uma poderosa emblemática e polêmica figura política, criando o seu próprio sistema clientelista local.

Tenório anos depois se transforma num dos políticos mais poderosos e influentes da Baixada Fluminense. Sua marca registrada era a metralhadora, “Lurdinha” – presente do conterrâneo ilustre, General Góis Monteiro, que ele frequentemente carregava ao peito, escondida sob uma indefectível capa preta. A arma, ao que se sabe, era utilizada para abater os “apoiadores” dos outros líderes políticos de grande expressão da cidade. 

Chamado pelo cabos eleitorais de “Rei da Baixada”, e pelos adversários políticos de “Deputado-Pistoleiro”, “O Homem da Capa Preta” logo virou inimigo número um da elite local. Ao longo de sua carreira, acumulou inimigos e desafetos. Tenório foi ameaçado diversas vezes, sofreu atentados, mas também mandava matar quem o desafiasse. 

Foi o caso do delegado paulista Albino Imparato, chamado ás pressas pelos poderosos de Caxias para controlar o ímpeto populista e agressivo de Tenório. A partir da chegada de Albino, Tenório e seus aliados passaram a serem perseguidos dia e noite: sua casa foi metralhada, sua família ameaçada e alguns de seus comparsas assassinados. Acuado, Tenório reagiu. No dia 28 de agosto de 1953, Albino Imparato foi encontrado metralhado, dentro de seu carro, no Centro da cidade.

Esse estilo agressivo e corajoso de enfrentar os adversários acabou criando uma aura de mito ao redor de Tenório Cavalcanti, muito pelo fato de ser um político autodidata, desafiando a elite corrupta de Duque de Caxias. Com a volta do regime democrático, filia-se á UDN (União Democrática Nacional), em 1945, sendo eleito deputado estadual, em 1947. Em 1950, foi reeleito com a quarta maior votação do estado do Rio de Janeiro, e em 1954, ano em que fundou o jornal Luta Democrática, e torna-se o candidato de maior votação do Rio de Janeiro para o cargo de deputado federal. 

Reeleito em 1958, novamente com a maior votação de seu estado, decide tentar o governo do recém criado Estado da Guanabara (atual Rio de Janeiro) pelo PST (Partido Social Trabalhista), terminando em terceiro lugar. Derrotado, volta para a Câmara, onde permanece até ser cassado em 1964 pelo Regime Militar. Acredita-se que José Serra e Marcelo Cerqueira (então presidente e vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), naquela época foram abrigados por Tenório em sua residência, conhecida como “Fortaleza de Caxias”.

Nunca esqueceu suas origens e, em sua terra natal, Palmeira dos Índios/AL, possuía uma casa no bairro Vila Nova, visitava familiares e amigos na Serra da Mandioca, Bonifácio, e passeava a cavalo pelas ruas de Palmeira dos Índios. Quando chegava a “Princesa do Sertão”, era recebido com festas, alegria e queima de fogos. 

Após o golpe militar de 31 de março de 1964, Tenório nunca mais voltou a se destacar no cenário político nacional. “O Homem da Capa Preta” faleceu de pneumonia, aos 82 anos, em 5 de maio de 1987. 

Roberto Gonçalves|

(Fonte / Tenório Cavalcante, um palmeirense ícone da política brasileira (cadaminuto.com.br)