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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Esporte / 5 coisas que eles não falam sobre as Olimpíadas

5- A Vila Olímpica é pura orgia / Vila Olímpica é nome que dão a uma área onde os atletas permanecem durante os jogos, a do Rio já tem até lugar, será no antigo terreno do Rock in Rio, em frente ao novo local do RIR e ao lado de onde ocorre a Bienal do Livro carioca. Bem, para você ter ideia da fama desse lugar, há até quem chame de Sexsylvania (ou poderia ser Sexolandia).
Imagine só viver em uma "cidade" povoada por jovens bronzeados, atléticos e mini-deuses no auge físico. Imagine todos os anos que eles dedicaram a disciplinar seus supercorpos, sem gordura, por uma chance de ficar nessa vila por algumas semanas. E então lá estão eles, todos os 10.000 atletas, sem pais, cônjuges e os regimes diários que têm regido suas vidas até esse ponto, em um lugar exótico com muito tempo livre. Bem, vamos ser um pouco mais diretos: em 1988 nos Jogos de Seul (Coréia do Sul) o problema foi tanto com umas camisinhas usadas que elas chegaram a aparecer no telhado de atletas britânicos. A Associação Olímpica teve que proibir sexo ao ar livre (só em inglês).
Dá pra imaginar uma crise tão grande por causa de camisinha espalhada que foi preciso banir oficialmente?! E isso não foi um caso isolado - pelo que parece, é o que acontece em cada uma das Vilas Olímpicas desde... sempre.
Quando chegou em 1992, os organizadores já estavam tão preocupados com a quantidade de sexo que decidiram começar a dar preservativo de graça para manter a Aids sob controle. Nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver (Canadá) em 2010, foram distribuídos 100.000 preservativos para cerca de 6.500atletas e dirigentes. Isso é cerca de 15 preservativos por pessoa. E os 100.000 preservativos não foram suficientes. No meio dos jogos, uma remessa de emergência foi trazida para preencher a lacuna. E isso não é nem contando a quantidade de sexo desprotegido que estava rolando. Aliás, Londres bateu o record do número de camisinhas esse ano.

-Onde é que o Dionísio passa os dias durante as Olimpíadas?

4- A cidade-sede é temporariamente transformada em um Estado de Polícia / Para recuperar a enorme despesa que é preciso para sediar os jogos, os anfitriões precisam de grandes marcas internacionais patrocinando as Olimpíadas. E como anfitriões, eles têm o direito de deixar apenas as principais marcas venderem seus produtos. Justo.
A menos, é claro, que você seja uma mãe inglesa esperando para aproveitar essa oportunidade de lucrar que só ocorre uma vez na vida. É melhor você nem pensar em usar palavras comuns como "Jogos", "2012", "Ouro," Prata", "Bronze", "Londres", "Medalhas", "Patrocinadores" e "Verão" nos seus produtos ou propagandas. Se você acidentalmente combinar qualquer uma dessas palavras divulgando o seu pequeno negócio é uma multa de 30.000 libras (algo como 95.250 reais).
Isso pode ser até estranho, mas se você quiser salvar o seu país da falência, vai acabar precisando fazer algum acordo com o diabo. É feio, mas é melhor do que acabar como a Grécia*, né?
*mais sobre isso depois.
Mas digamos que por alguma razão você é totalmente contra os Jogos Olímpicos. Bem, não espere poder usar a sua liberdade de expressão para deixar claro a sua posição. O Comitê Olímpico exige que, durante os jogos, a cidade anfitriã receba direitos especiais. Não o de se gabar para as outras cidades, apesar de que isso também é dado, mas o direito de poder passar por cima de todas as leis locais relativas à liberdade de expressão. O contrato de Londres, por exemplo, explicita que todos os outdoors espalhados pela cidade devem ser alugados pela prefeitura e que só poderão ser usados pelos patrocinadores dos jogos. Se alguém quiser colocar um cartaz anti-Olimpíadas, estará proibido. A polícia ainda tem o poder de entrar na sua casa para rasgar suas placas anti-Olimpíadas.Só de incorporar o logo das Olimpíadas é um ato de desafio - uma loja de lingerie foi forçada a desfazer uma vitrine com cinco bambolês e alguns sutiãs imitando os anéis olímpicos, provavelmente por medo de alguém confundir a entrada com a da Vila Olímpica (ta dum tss).

3- Sediar as Olimpídas pode falir o seu país / Cidades no mundo inteiro brigam por uma chance de levar os maiores jogos do mundo para o seu país. É como os Jogos Vorazes do mundo adulto, só que sem a fome, assassinato e incesto (é uma brincadeira do autor do texto, que não leu Jogos Vorazes). Ser escolhida para sediar os Jogos Olímpicos é o reconhecimento de que a sua cidade é grande e digna dos olhos de todo o planeta. Você acha que alguém vai fazer campanha para levar as Olimpíadas para qualquer fim de mundo? Sediar as Olimpíadas significa que sua cidade será lembrada e respeitada por décadas. Existe alguma outra honra maior do que isso?
Mas há um preço para obter o privilégio de sediar as Olimpíadas, e esse preço pode ser a sua economia inteira. A Grécia aprendeu a lição da maneira mais difícil.
O orçamento inicial da Grécia para os Jogos de 2004 foi de 4,5 bilhões de euros, mas o custo real dos jogos rapidamente duplicou essa estimativa. Quando tudo foi dito e feito, o custo dos jogos foi de 5% do PIB da Grécia, e oito anos depois, o país não se recuperou da dívida. A cidade de Vancouver desistiu de recuperar todo o dinheiro investido em sua extravagante Vila Olímpica, que foi posteriormente convertida em casas residenciais. Hoje os edifícios formam uma cidade fantasma*.
*Quem lembrou de Paper Towns, do John Green, levanta os braços. \o/
As Olimpíadas de Inverno de Nagano (Japão, 1998) mergulhou a cidade em uma recessão que custou uma carga tributária de 30.000 dólares por família da cidade (algo como 60.800 reais). Fora a Grécia, nenhum desses desastres financeiros pode ser comparado ao de Montreal (Canadá). O estádio Olímpico levou 11 anos para terminar de ser construído depois que os jogos acabaram - e eles levaram 30 anos para pagar a dívida contraída para sediar as Olimpíadas de 1976.
O que deixa claro o porquê das pessoas de Berne, da Suíça, votarem contra a chance de sediarem os jogos.

2- Quem paga mais dinheiro fica como anfitrião / A única coisa mais difícil do que uma cidade completar o processo de licitação dos Jogos Olímpicos é uma cidade completar o "Nós agora não temos mais moradores de rua e todo mundo aqui é bonito". O COI analisa tudo, desde locais da cidade, esportes, capacidades de infraestrutura, de transporte, habitação e a atitude geral dos próprios cidadãos. Você sabe por que Paris não chegou a sediar os Jogos Olímpicos de 2012? Porque houve uma greve geral no dia que o Comitê Olímpico visitou a cidade e o transporte público estava paralisado. Boom. Nada de Jogos Olímpicos para você, França. Boa sorte da próxima vez. Você não pode fingir estar pronto para acolher milhares de pessoas para o evento de uma vida.
Se isso for verdade, só posso acreditar que essa segunda parte foi o que fez o Rio de Janeiro virar sede das Olimpíadas...E o dinheiro tem um grande papel na hora de convencer os membros do COI para escolher a sua cidade. Foi descoberto que nas Olimpíadas de Inverno de Nagano foram gastos dezenas de milhares de dólares só para cortejá-los. Enquanto Salt Lake City estava dando aos membros da comissão câmeras descartáveis de brinde, os japoneses estavam distribuindo câmeras de vídeo caras como se fossem doces. Enquanto o limite de presente era 200 dólares, os japoneses gastaram uma média de 5.700 dólares em cada membro da comissão. Depois de tudo, o custo que Nagano teve em sua oferta passava de 24 milhões de dólares, cinco vezes mais do que Salt Lake City. E nem toda essa informação foi transparente, já que Nagano destruiu os registros de despesas antes que alguém pudesse pegá-los.

1- Gente pobre é tirada do caminho para dar espaço / Uma das maneiras que as cidades conseguem dinheiro para sediar as Olimpíadas é prometendo aos seus cidadãos que tudo vai valer a pena. No final do dia, todo mundo vai ter instalações de classe internacional, novos lugares para morar, incontáveis oportunidades de emprego, uma receita imensa, e como legado vários programas esportivos para os jovens da cidade. O que não amar?
Bem, todos esses novos espaços e habitações precisam estar em algum lugar, que normalmente é onde as pessoas pobres vivem. Trinta mil habitantes de Atlanta foram deslocados pelos Jogos de 1996, e em 1988, 720.000 foram obrigadas a deixar suas casas em Seul. Os que tiveram o azar de não ter um teto sobre suas cabeças foram caçados e alojados fora de vista durante os jogos. Mas nada se compara a Pequim - 1,5 milhões de chineses foram forçados a abandonar suas casas nos preparativos para os jogos de 2008.

Mesmo que as pessoas não sejam forçadas a sair, em muitos casos o aluguel fica tão caro que eles não podem se dar ao luxo de viver em suas casas. E sobre as instalações de classe internacional, na Grécia,21 dos 22 estádios agora estão às moscas. Mas tudo bem, tudo vai valer a pena porque agora vai dar para definir de vez qual país é o melhor em nado sincronizado...

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Espero que tenham gostado! É sempre bom ver os dois lados, né? Eu até acredito que o Rio vai se sair melhor do que a maioria dessas cidades (sim, vai ficar muita construção fantasma por aqui, como já temos a Cidade da Música e vamos sofrer de abandono), porque nós temos algumas vantagens. Por exemplo, diferente do Japão, nós temos espaço. A Vila Olímpica mesmo está sendo construída em um lugar que já estava inutilizado e com a quantidade de prédio que tem surgido pela Barra provavelmente brotaria algo ali mais cedo ou mais tarde.
A minha maior preocupação é com o trânsito*, vou ter que criar um estoque de sobrevivência aqui em casa durante as Olimpíadas, porque se tentar sair...
*Se você não for do Rio, para dar uma ideia, hoje em dia no horário de trânsito dá para levar uma hora ou mais de carro em um caminho que é feito em 5 minutos em um dia normal.
(Fonte / http://conversacult.blogspot.com.br/2012/08/5-coisas-que-eles-nao-falam-sobre-as.html)