Certa vez ouvi dizer que o homem que venera outro homem, por esse outro (supostamente) ter alcançado a realidade, está, em verdade, rendendo culto à autoridade e, por conseguinte, nunca encontrará a verdade. Digo isso porque a todo o momento vejo pessoas - digamos não muito bem intencionadas -, tentando se aproveitar da boa fé de homens, mulheres e principalmente de muitos jovens despreparados. Verdadeiros malandros travestidos de religiosos com um vocabulário característico, frases feitas, versículos bíblicos decorados para cada ocasião, trajes típicos, passando a idéia que são os enviados do céu, foram os escolhidos para conduzir essa pobre gente, "o povo de Deus", a terra prometida.
Hoje em dia todo mundo diz que é evangélico, todo mundo é crente, todo mundo é cristão. Na verdade o que aconteceu foi o seguinte: descobriram o mapa da mina e agora todo mundo quer uma fatia desse bolo.
Vamos por parte: dizem que a crença em Deus é poderoso incentivo para uma vida melhor. Ora, por certo, o nosso incentivo para uma vida melhor é o próprio desejo de viver com pureza e simplicidade. Se conferimos tanta importância ao incentivo, não estamos interessados em tornar a vida possível para todos.
Antes de continuar: quero que fique bem claro para o amigo leitor que eu não nego Deus; seria absurdo fazê-lo. O que eu quero dizer é que a crença é negação da verdade, a crença é um obstáculo à verdade; crer em Deus não é achar a Deus. Nem o crente nem o descrente acharão a Deus. Por que a realidade é o desconhecido, e a nossa crença ou descrença do desconhecido é simples autoprojeção, e por conseguinte não é real.
Nós cremos porque isso nos dá satisfação, consolo, esperança e dizemos que estas coisas dão sentido à vida. Na realidade, nossa crença tem muito pouca significação, porque cremos e exploramos, cremos e matamos, cremos em um Deus universal e nos assassinamos mutuamente. O rico crê em Deus; explora impiedosamente, acumula dinheiro, e depois manda reformar ou construir uma igreja e fica tudo 0X0 (para os homens).
Os homens que lançaram a bomba atômica sobre Hiroxima disseram que Deus os acompanhava; os que voavam da Inglaterra para destruir a Alemanha, diziam que Deus era seu co-piloto. Os ditadores, os primeiros ministros, os generais, os presidentes, todos falam de Deus e têm fé imensa em Deus. Estão prestando algum serviço tornando melhor a vida do homem? As mesmas pessoas que dizem crer em Deus devastaram a metade do mundo, e o deixaram em completa miséria. A intolerância religiosa, dividindo os homens em fiéis e infiéis, conduz a guerras religiosas. A crença separa os homens. Será possível unir certo número de pessoas em um grupo, mas este grupo se oporá a outro grupo. Idéias e crenças nunca são unificadoras, ao contrário, são fatores de desavença, desintegração e ruína. A maior prova disso é o próprio segmento evangélico. Essa crença em Deus, só está, na verdade, espalhando mais miséria pelo mundo. É uma crença sem eficácia. Se essa crença em Deus, se isso fosse uma experiência real, os seus semblantes irradiariam afeto, e não estariam se destruindo e destruindo a seus irmãos.
Resumo da ópera: Deus se manifesta de momento a momento, e isso só pode acontecer num estado de liberdade e espontaneidade, e não quando a mente foi disciplinada, de acordo com um padrão. Deus não é produto da mente, não é resultado de autoprojeção; só pode surgir quando há virtude, que é liberdade. Virtude é enfrentar o fato, o que é. E enfrentar o fato é um estado de bem-aventurança. Só quando a mente está repleta de felicidade, tranqüila, imóvel, sem nenhuma projeção de pensamentos, consciente ou inconsciente – só em tão se manifesta o ETERNO.
Ouvi também uma outra coisa curiosa: “este meio evangélico mais parece uma feijoada, tem de tudo um pouco”. É verdade. O que tem por aí de denominações chega a ser um absurdo, os nomes, “doutrinas”, cada um mais estranho do que o outro.
Cuidado com os malandros travestidos de religiosos com aquele vocabulário característico, frases feitas, versículos bíblicos decorados para cada ocasião, trajes típicos, passando a idéia que são os enviados do céu. Eles falam em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas o pensamento deles está voltado para o dinheiro, poder e fama.