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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Baixada Fluminense virou história em quadrinho

A Praça da Primavera e de Imabariê, em Duque de Caxias, as ruas de Mesquita e o rio Sarapuí que corta a região de Nilópolis a Belford Roxo são alguns dos cenários escolhidos pelo Coletivo Capa Comics para ilustrar histórias. A ideia surgiu entre amigos na mesa de bar, em 2013, quando uniram a paixão comum pelo gênero com a prática do desenho, a vontade de ser independente e fazer algo bacana no local onde vivem. Hoje, o grupo de quadrinistas é formado por dezesseis pessoas. “E cada vez aumenta mais, somos a Legião Suburbana”, brinca Alexandre D'Assumpção, roteirista do grupo, apelidado de Sumpa. O nome escolhido para o coletivo vem do político Tenório Cavalcanti, personalidade de Duque de Caxias eternizada como o Homem da Capa Preta.

Com traços cheios de personalidade, as HQs combinam realidade e ficção. Lugares, pessoas e lendas locais inspiram na hora de criar novas narrativas. Detrito é um ex-professor da rede pública que se transformou em “homem cocô” após cair no rio Sarapuí e agora precisa enfrentar seu “imperfeito mundo novo”.  Seu Joel representa um justiceiro, caçador de monstros, como os que batem em gays e machucam animais. Polly & Pumpkins conta a história de dois amigos na faixa dos 20 anos que lideram uma banda de rock e sonham em se apresentar no Rockcaxias Fest.  Estas são algumas das personagens do Capa Comics que se faz valer da máxima de que por trás de toda vida há uma história a ser contada.

João Carpalhau, um dos idealizadores do projeto, interpreta como uma brincadeira no quintal de casa,  e compara com o que Stan Lee, criador de Homem Aranha, Hulk e X-Men, faz com Nova York. Para o roteirista, a vontade é que as pessoas se sintam felizes em ver a baixada retratada e se divirtam, mas não descarta a função social dos quadrinhos. “É uma arte sequencial, com texto e ilustração. São elementos que estimulam a imaginação. É contextualizador e transformador”, enfatiza. Morador de Caxias, ele foi alfabetizado através de gibis, o que o ajudou a atenuar a dislexia quando criança.

A primeira revista foi lançada no dia 27 de setembro de 2013, com vinte páginas. Ela foi impressa e vendida no mercado municipal de Caxias e em algumas bancas e lojas. "Pode parecer contraditório para o século 21, mas queríamos lançar uma revista em papel para formar leitores de lugares da Baixada que não conseguem acessar a internet muito bem, como Xerém e Magé", conta Carpalhau ao Mapa de Cultura.

As mentes criativas são voluntárias, estão entre 30 e 50 anos, com família e empregos paralelos. Professor de história, de artes, designer, roteirista, Sumpa acredita que a diversidade faz com que qualquer tipo de público se identifique. “O formato é híbrido e acaba pegando todos os públicos, adolescente e adulto. Viemos do papel, mas estamos nos adaptando ao conteúdo para internet. A expansão é natural, é o momento multimídia. Temos que aproveitar, porque é agora que o artista cresce.” E como cresce.

Em menos de um ano, o coletivo já deu início a oficinas em Mesquita, estabeleceu parcerias e iniciou a primeira Gibiteca Municipal da Baixada Fluminense, no prédio da Biblioteca Leonel Brizola, em Duque de Caxias, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, que ainda precisa de doações. A Rocinha se inspirou para fazer HQ e Sumpa dá consultoria na comunidade. Nos planos, a criação do Anima Comics, um subgrupo de desenho animado com um curta-metragem de 15 minutos de cada personagem. Detrito terá destaque com sua trajetória contada do começo ao fim e pode virar jogo.

O resultado positivo também é notado no número de curtidas na página de Facebook da Capa Comics, são quase 2 mil. João contou que, nosite, já tiveram mais de 20 mil acessos em apenas um dia. “Ver tudo acontecendo alimenta o sonho de virar referência nacional e servir de estímulo para que outros grupos possam se unir”, complementa.

O ambiente da internet diminui a distância entre criadores e leitores. Por e-mail, um garoto pediu para desenharem o Muleque Piranha Voador. Pedido feito e atendido. Virou ilustração, programa de TV dentro de Polly & Pumpkins e quase ganhou um quadrinho próprio. Sumpa acredita que este episódio retrata a ideia por trás do Capa Comics. “Fizemos com que outra pessoa sonhasse, este é o grande truque. Não queremos só criar um público, mas também pensadores e pessoas livres o bastante para acreditar que possam fazer o mesmo.”