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domingo, 24 de abril de 2016

Diário de Valentina: operada de emergência, mãe precisa deixar bebê com microcefalia com parentes

(Flávia Junqueira) Valentina chora. Quase um miado. Como diz a mãe, desta vez ausente, “Valentina não sabe chorar”. Está irritada. Algo difícil de se ver desde que a bebê de 4 meses começou a usar três remédios para evitar as convulsões causadas pela microcefalia e que a fazem dormir por longas horas. A mamadeira gira em sua boca, que não sabe ainda como sugá-la. Ela sente falta da mãe. Da voz, do cheiro, do peito da mãe. Fabiane Lopes, de 32 anos, foi operada de emergência na última quarta-feira, após uma crise de apendicite. Ao despertar da anestesia, a primeira pergunta:

— Como estão meus filhos? Eles estão espalhados por aí — disse, baixinho, com a voz embargada.
Com a internação da mãe, na noite de terça-feira, Valentina ficou aos cuidados da irmã e da tia de Fabiane, que se revezaram na rotina puxada de remédios, mamadeiras, fraldas e banho. Breno, de 13 anos, e Ana Júlia, de 3, passaram os dias com a cunhada da diarista. Maria Eduarda, de 7, com uma prima. Desde fevereiro, o EXTRA acompanha o desenvolvimento de Valentina e, há três domingos, publica a série de reportagens “Diário de Valentina”.
A preocupação de Fabiane é ainda maior porque as três meninas estão doentes. Valentina anda resfriada e com o peito chiando. Ana Júlia, com febre e tosse, apesar do antibiótico. Maria Eduarda apresenta febre alta.
— Eu precisava estar boa, fora daqui, para cuidar dos meus filhos. Não sei por que estou passando por tudo isso. Mas sei que o Senhor tem um propósito na minha vida e eu me apego a Ele para passar por tudo isso — disse Fabiane, na enfermaria 8 do terceiro andar do Hospital Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias.
E ela bem que tentou evitar ao máximo a internação. Sentindo muitas dores na madrugada de segunda-feira, chamou o Samu antes das 6h. Pouco antes das 8h, a ambulância chegou e levou Fabiane para a UPA Parque Beira-Mar, ao lado do Moacyr do Carmo. Com pressão e glicose elevadas, Fabiane foi encaminhada pelo clínico a um cirurgião no hospital vizinho.
— Me tiraram da maca dos bombeiros e me colocaram numa cadeira. Depois, me tiraram da cadeira e fui andando para a sala vermelha do Moacyr do Carmo. Já eram 11h e eu não estava aguentando colocar os pés no chão de dor.
Após uma tomografia, o médico receitou antibióticos e recomendou a internação para observação. Segundo nota da Prefeitura de Duque de Caxias, o diagnóstico era infecção renal.
Ao saber que Valentina chorava sem parar, Fabiane deixou o hospital e optou por tomar o antibiótico por via oral, em casa.
— Quando cheguei, Valentina mamou muito — contou a mãe, que, sob efeito de analgésicos, ainda levou a menina às sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, no dia seguinte, no Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna.
Na volta, Fabiane se rendeu à dor e, curvada, parou no Moacyr do Carmo. O quadro de saúde da mãe de Valentina é estável.