O que podemos esperar de um país onde as crianças são criadas sem referências positivas de arte, cultura, educação, esporte, saúde, política, religião, etc...?
Nada mais ilógico do que ficar falando em futuro enquanto que nossas crianças são desinformadas, deseducadas, desqualificadas, depreciadas, inferiorizadas.
Outra coisa: essa obsessão pelo futuro, pra quê?
Por que tanta preocupação com o futuro se o presente desconhece o seu passado, sua história, suas raízes, suas origens - e o que é pior - quando toma conhecimento faz questão de ignorar por sentir vergonha da cor da própria pele ou por ser de origem humilde ou por ter a cabeça chata?
Por que insistimos em afirmar que as crianças são o futuro do país se nossas relações [hoje] com essas mesmas crianças são norteadas pelo preconceito, ganância, ódio, intolerância, promiscuidade, crueldade, drogas e tudo mais de ilícito que se possa imaginar?
Por que insistimos em afirmar que as crianças são o futuro do país se nossas relações [hoje] para com os pequeninos são de extrema falta de respeito, violência e abuso de toda ordem: sexual, maus-tratos físicos, trabalho escravo e como se não bastasse ainda os atiramos pelas janelas ou os arrastamos amarrados a um cinto de segurança a quilômetros e quilômetros de distância, sem falar nas facadas, queimaduras, balas perdidas, granadas e minas terrestres vitimando essas pobres criaturinhas todos os dias?
Dizem que as crianças são o futuro do país. Mas, que futuro?
Um estudo recente do Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares indica que ao menos um bilhão de pessoas (cerca de um sétimo da população mundial) sofre de desnutrição no planeta.
Na América Latina, a situação é considerada “grave” na Bolívia, Guatemala e no Haiti.
A pesquisa, intitulada Índice Global da Fome 2010, mostra que a fome se revela principalmente por meio da desnutrição infantil – quase a metade dos afetados são crianças. Os níveis mais altos se encontram na África Subsaariana e no sul da Ásia.
Dizem que as crianças são o futuro do país. Mas, que futuro?
Por que insistimos em afirmar que as crianças são o futuro do país se os deixamos com fome, com sede e desde cedo (com a saúde já debilitada) desamparados entregues a própria sorte?
A lei é clara: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
Isso tem que ser feito agora, isso não pode esperar, isso não pode ser feito no futuro, isso tem que ser feito no presente, já, todo dia.
Dizem que as crianças são o futuro do país. Mas, que futuro?
O futuro, com certeza, será promissor se começarmos a construir o presente reconhecendo nossas origens e respeitando nossos antepassados.
Esse teria que ser o nosso testemunho para as nossas crianças, esse seria o melhor exemplo que poderíamos dar às nossas crianças, essa seria a mais importante lição que poderíamos ensinar às nossas crianças.
Temos que começar aqui, agora no presente. Temos (antes de qualquer coisa) que devolver às nossas crianças a alegria e o prazer de ser criança.
Precisamos trabalhar para que nossas crianças voltem a sonhar como crianças, voltem a brincar como crianças. Só assim dessa maneira teremos um país... Só assim dessa maneira teremos um futuro. (Huayrãn Ribeiro)