O Campinarte é independente. Não recebe subvenção de nenhuma prefeitura, governo de estado e muito menos do governo federal. Não somos uma organização não governamental, fundação, associação ou centro cultural e também não somos financiados por nenhum partido político ou denominação religiosa. Não somos financiados pelo tráfico de drogas ou milicianos. Campinarte Dicas e Fatos, informação e análise das realidades e aspirações comunitárias. Fundado em 27 de setembro de 1996 por Huayrãn Ribeiro.

Pesquisar este blog

segunda-feira, 2 de março de 2020

Ambição modesta

O que eu mais encontro pelas ruas são pessoas que vivem reclamando que não comem bem, tudo faz mal, não estão dormindo bem, não gozam de boa saúde, pessoas sem alegria sem aquele bom humor. A primeira pergunta que faço (quando tenho oportunidade) é se elas estão trabalhando. A resposta é sempre um triste não. Triste porque no fundo cada criatura sabe que o trabalho é um dever, é uma necessidade de que se impõe a todo homem. Existe sim no inconsciente coletivo a idéia de que o trabalho é necessário tanto aos pobres como aos ricos; aqueles trabalham porque precisam ganhar a vida; estes, porque devem ocupar o tempo para não serem vítimas da ociosidade, pois é ela que leva as criaturas à loucura. O que lá no fundo essas pessoas têm é vergonha de viver de expediente, ou quando são forçadas pelas circunstâncias adquirir dinheiro por outra forma que não seja trabalhando, às vezes até de maneira desonesta. Por outro lado essas mesmas pessoas não têm vergonha de exercer uma profissão humilde, contanto que seja honrosa e honesta. A maioria desses homens e mulheres foi educada, instruída por seus pais, seus professores, para o trabalho e constituir família. Essas mesmas pessoas no fundo têm uma ambição muito modesta: trabalhar e ganhar o necessário para se sustentar e se possível fazer umas economias. Uma coisa muito natural. O leitor concorda? O que eu mais encontro pelas ruas são pessoas de cabeça baixa, sem esperança, sem perspectiva, sem um norte, sem saber se vão levar o mínimo necessário para casa no final do dia. Alguns vivem perambulando daqui pra lá de lá pra cá implorando uma oportunidade de trabalho. O que lá no fundo essas pessoas têm é vergonha de viver de vale isso, vale aquilo, tanto assistencialismo, tanta esmola, tanta migalha, tanta falta de respeito que a única certeza que resta desta festa é que ele como cidadão não vale nada. A maioria desses homens e mulheres foi convencida por seus pais, seus professores, que eles vivem numa democracia e que numa democracia todos são iguais. O curioso é que todas essas pessoas são ordeiras, pagam seus impostos, votam, procuram levar suas vidas de acordo com a lei. Pensando bem, diante de tanta injustiça, acho que essas mesmas pessoas no fundo têm uma ambição muito modesta: ser diferente. Sendo igual a todos como manda uma boa democracia eles vivem de mal a pior, melhor então é ser diferente, pelo menos não passariam fome, teriam onde morar, estariam trabalhando, teriam dignidade, seriam respeitados, não sofreriam por conta de tantas e tantas outras desgraças democráticas que a classe política anda espalhando por aí. Uma coisa muito natural. O leitor concorda?